DINHEIRO COMPRA FELICIDADE?
É bem provável que em alguma conversa com seus amigos vocês já devam ter parado para se questionar se dinheiro compra felicidade ou mesmo se dinheiro é condicionante de felicidade. Será que quem ganha mais é mais rico?
Saiba que esse é um assunto extremamente complexo e não está somente entre roda de amigos, mas também surge com bastante freqüência em debates acadêmicos em universidades ao redor do mundo. Vemos muitos artigos, pesquisas e profissionais dedicados ao assunto e parece que chegar a uma conclusão é algo bastante difícil por conta da subjetividade do tema.
O QUE É FELICIDADE?
Primeiro, é importante que seja entendido o que significa felicidade e pode acreditar que essa não é uma tarefa simples. Felicidade é um conceito subjetivo e por mais que muitos filósofos e poetas já tenham tentado traduzir em palavras, cada um terá sua própria percepção do sentimento.
O economista londrino Paul Dolan leciona matérias sobre felicidade e bem estar na London School of Economics e é categórico em dizer que um fator determinando para a felicidade das pessoas é a percepção de propósito. Dolan diz que devemos centralizar nosso tempo e energia no que realmente nos faz bem como uma forma de criar felicidade.
Dessa maneira, precisamos sentir que o que fazemos traz um impacto para a vida das outras pessoas e também para nossa, no final do dia precisamos nos sentir útil para sermos felizes. Dolan estuda felicidade há mais de 15 anos e possui incontáveis publicações, palestras e até é autor de um Best-seller sobre o tema.
A importância da Educação Financeira
É importante, no entanto, considerar a dimensão temporal da felicidade, muitas vezes precisamos abrir mão da satisfação no momento presente em troca de mais felicidade no futuro. Isso me lembra as noites que passei em claro na época da faculdade com o objetivo de me formar. Precisei abrir mão do meu lazer e também de algumas noites bem dormidas para conquistar o diploma, mas a satisfação de recebê-lo fez tudo certamente valer muito a pena.
Aliás, algo bastante intrigante é a nossa relação entre experiência e memória, estudada por Daniel Kahneman prêmio Nobel de economia em 2002. O fato é que o sentimento que temos quando olhamos para o nosso passado é diferente do sentimento que tivemos enquanto vivíamos aquele momento.
Imagine uma viagem cheia de conflitos, o seu vôo atrasou, o hotel não tinha lá tanto conforto, a comida do lugar não era nenhum pouco agradável, enfim, as coisas não saíram nem de longe como esperado. Porém, alguns meses depois, ao olhar as fotos dessas viagens com os amigos, você provavelmente irá rir das histórias e até ter saudade de tudo que viveu por lá, será que isso soa familiar?
Nosso eu recordativo não tem a tendência de agregar tanto as emoções, principalmente negativas, na nossa memória. A forma como experienciamos o mundo é distinta da forma como nos lembramos do que foi vivido. Isso faz, inclusive que a gente cometa alguns erros por mais de uma vez.
Daniel Kahneman – A Diferença entre Experiência e Memória
https://www.ted.com/talks/daniel_kahneman_the_riddle_of_experience_vs_memory?language=pt-br
PAÍSES MAIS RICOS SÃO MAIS FELIZES?
Como você pode perceber, existe uma série de estudos a respeito de felicidade e te falo logo de início que estes estão longe de chegar a um consenso. Uma maneira de analisar, no entanto, seria avaliar a sensação de felicidade em países mais ricos, que oferecem uma qualidade de vida melhor para seus habitantes.
No livro “Cultura e Bem-Estar: Coleção de Trabalhos de Ed Diener” (tradução livre), o psicólogo Ed Diener mostra que nações mais ricas atingem um menor índice de mortalidade infantil, podem investir mais em parques, lazer, educação e também em ciência. Porém, nessas sociedades serviços e bens extras impactam bem pouco o nível de bem-estar subjetivo das pessoas.
Nesses países considerados mais ricos, porém, costumam existir uma carga tributária mais alta e o nível de escolaridade e emprego também é maior, coisas muito boas, porém, as pessoas acabam trabalhando mais e sentem que têm pouco tempo para fazer outras atividades e até mesmo tirar um tempo para si mesmo, algo importante e necessário para todo ser humano.
O que parece é que as pessoas estão em busca de uma “felicidade material” muito além do que de fato é necessário e acabam por isso sacrificando seus relacionamentos e seu próprio tempo para conquistar isso. É importante aqui, reavaliar suas prioridades e entender o que é essencial, o que realmente vale a pena.
No Butão, país do sul asiático, foi criado um índice na década de 70 para medir a felicidade. O FIB ou Felicidade Interna Bruta que surgiu como uma contraposição ao Produto Interno Bruto, índice que avalia a produtividade de um país em um determinado período de tempo. A intenção é mostrar que o progresso de um país deve ser medido não em riquezas e consumo, mas sim através da felicidade do seu povo.
O rei do Butão na época da criação do FIB se comprometeu a construir uma economia adaptada à cultura do país, se baseando em valores budistas, religião predominante por lá. Ficou assim o compromisso de não somente evoluir economicamente, porém também em termos espirituais.
Não tenho muita noção de como são feitas essas avaliações e também o monitoramento do índice, porém é algo certamente que gera muita curiosidade. Buscando por mais informações, vi que os sites oficiais (pelo menos os que estão em inglês) não são constantemente atualizados.
A grande questão é que a felicidade não depende de um ou outro fator e sim de um conjunto de coisas, a renda é somente um destes. Alguns especialistas acreditam que a saúde física seja o que tenha mais peso nessa equação, certamente quando estamos doentes não conseguimos pensar em outra coisa ou desfrutar de nada mais.
Nossa saúde emocional, no entanto, é mais frágil e mais difícil de ser tratada. O quadro de uma pessoa depressiva não pode ser revertido com dinheiro, porém, a falta dele provavelmente poderá impactar em seu tratamento inibindo o acesso a especialistas e medicação, podendo agravar a situação. De qualquer forma, não podemos dizer que a depressão é característica de pessoas pobres ou ricas.
MAIS DINHEIRO TRAZ MAIS FELICIDADE?
No ano de 2010, Daniel Kahneman e Angus Deaton publicaram um estudo que avaliava o aumento de renda de uma pessoa ao seu bem-estar emocional, chamado também de bem-estar hedônico ou felicidade experiencial, aquela que sentimos no momento presente, refere-se à qualidade emocional da experiência das emoções que tornam nossas vidas mais ou menos prazerosas.
Os cientistas e ganhadores do Prêmio Nobel de Economia constataram que mais dinheiro não compra mais felicidade, mas ter pouco dinheiro está sim associado a um sofrimento emocional. Não ter dinheiro para coisas básicas como saúde e educação faz muito diferença e acaba gerando impacto negativo na nossa avaliação de bem-estar.
Os questionários foram aplicados nos Estados Unidos e Kahneman e Deaton chegaram a um número exato capaz de trazer felicidade, uma renda familiar de US$ 75 mil por ano o equivalente hoje a aproximadamente R$297 mil. O que eles avaliaram foi que ganhar acima desse valor não garante bem-estar emocional adicional. “Um aumento além deste valor não melhora a habilidade de um indivíduo de fazer o que importa mais para o seu bem-estar emocional, como passar tempo com pessoas que gosta, evitar dor e doença e aproveitar o lazer”, concluíram.
O valor encontrado corresponde a renda que os indivíduos norte americanos necessitariam para atingir esse objetivo, é claro que em sociedades com outros desafios mais na base como falta de escolaridade e desigualdade social, essa quantia seja diferente. Importante dizer também que somente um terço da população ganhava na época a quantia de US$75 mil de salário anual.
O World Happiness Report (Relatório Mundial da Felicidade) mede a satisfação das pessoas e leva em consideração uma série de indicadores como o PIB per capita, a percepção de corrupção pela população, liberdade de escolha e a expectativa de vida de 156 países. O relatório é publicado pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.
No topo do ranking da última pesquisa estavam países ricos como Finlândia, Dinamarca e Noruega e nos últimos lugares com mais conflitos e problemas de base como Sudão do Sul, República Centro-Africana e Afeganistão. Ainda assim, existe uma relutância em afirmar que esses dados possam dizer que a renda é determinante de felicidade.
CONCLUINDO
Dinheiro não é condicionante de felicidade, uma unidade monetária a mais não necessariamente vai te trazer mais felicidade, porém, a ausência dele pode sim ter impacto na sua avaliação de bem-estar. Saiba fazer boas escolhas e procure alocar mais do seu tempo em coisas que te deixam mais feliz.