Você com certeza já ouviu dizer que nós vivemos em um mundo exponencial. Já percebeu que o dia passa cada vez mais rápido e que, ao piscar os olhos, já estamos redecorando a casa para o Natal. Todos os dias recebemos no Whatsapp um vídeo novo com uma tecnologia revolucionária que vai mudar nosso dia-a-dia de forma brutal, as famosas tecnologias “disruptivas”.
Os modelos mentais que criamos ao longo da vida para entender nossa realidade já não se aplicam mais.
Podemos dar inúmeros exemplos disso: pense em uma empresa de carros. Qual vem à sua cabeça? Provavelmente Ferrari, Mercedes ou BMW, ícones do automobilismo, mas a principal empresa de carros hoje não detém um único carro, a Uber. A mesma coisa para a indústria hoteleira, pensamos no Hilton, no Merriot, mas a maior empresa de hospedagem não tem um único quarto e nenhum único hotel, a Airbnb. Ainda assim, no Brasil, uma indústria continua sendo teimosamente vista com as lentes do passado e as pessoas que participam e investem nela ainda não perceberam o quanto o mundo mudou e o quanto isso impacta o bolso delas.
A indústria a qual estou me referindo é nada menos do que a mais competitiva do mundo:
indústria de fundos de investimentos. Ao longo do último século (o primeiro “hedge fund” surgiu em 1941), gestores vêm se digladiando para obter uma mínima vantagem na hora de comprar e vender ativos financeiros e assim atingir riquezas cobiçadas por qualquer ser humano. O trabalho dos gestores reside em analisar informações sobre economia, empresas e o mercado financeiro para encontrar alguma vantagem e usá-la para ultrapassar os retornos médios dos ativos financeiros– em linguagem mais técnica, gerar Alpha. Em português claro, comprar barato e vender caro.
A chave para encontrar essa vantagem reside na análise de informação. Quem possui a melhor informação identifica mais boas oportunidades no mercado e consequentemente ganha mais dinheiro.
A grande questão é que, dado que o mercado financeiro, assim como todos os outros, mudou completamente, analisar informações é um trabalho bem mais complexo do que no passado. Enquanto no restante do mundo os gestores estão utilizando drones equipados de reconhecimento facial e de imagens, no Brasil os gestores ainda estão lendo jornais, livros e relatórios de research. Ainda assim, muitos justificam a leitura de jornal e livros como únicas fontes de informação necessárias, assim como o era em 1940.
Vamos então nos aprofundar em como os dados estão sendo criados e analisados hoje em dia, e deixamos ao leitor que tome suas próprias conclusões sobre a validade desse argumento.
A EXPLOSÃO DE DADOS
A primeira grande mudança no mercado financeiro é a quantidade colossal de informação que é produzida nos dias de hoje. Segundo estudo da IBM, produzimos cerca de 2.5 bilhões de gigabytes de informação por dia. Se não bastasse, o estudo mostra evidências de que esse número cresce exponencialmente ano após ano.
Em um mercado onde informação é dinheiro, quem consegue processar uma maior quantidade de informação possui uma vantagem competitiva enorme em relação aos seus concorrentes.
O desafio é justamente esse: como filtrar nesse oceano de dados apenas o que é relevante (que, por si só, já é muita coisa), e processar essa informação, transformando-a em uma estratégia de investimento?
As fontes de informação podem ser das mais diversas: Linkedin, para conseguir informação de como é a cultura da empresa; Twitter, para acompanhar as pessoas relevantes e que conseguem movimentar os mercados com suas declarações; sites de avaliação, para entender a visão que o cliente final tem da empresa analisada, e por aí vai, até onde sua criatividade permitir. A única forma de sobreviver a esse novo mundo é pensando diferente. Utilizar tecnologias que dê a capacidade de digerir essa quantidade absurda de informação aos gestores.
É crucial entender que sem tecnologia, a probabilidade de sucesso é reduzida à pura sorte. Nós não gostamos de contar com a sorte, então decidimos quase uma década atrás, a investir pesadamente em tecnologia e inteligência matemática e estatística para processar de forma inteligente a vasta quantidade de informação disponível.
Mas… quantidade de informação não é tudo.
ME DÁ UM SEGUNDO?
Você provavelmente levou algo como um segundo para ler o subtítulo acima. Esse é um bom exemplo da segunda disrupção no mercado financeiro: a velocidade. Quanto tempo uma informação demora para se tornar uma notícia velha? Quanto tempo demora para um acontecimento ser incorporado totalmente no preço de um ativo (eliminando assim qualquer potencial de ganho com essa nova informação)? A informação por si só já não garante uma vantagem competitiva no mercado uma vez que o tempo de reação do mercado caiu vertiginosamente com o uso de algoritmos.
Um trader, se estiver com o dedo no gatilho, leva no mínimo alguns segundos para absorver uma nova informação, processar, transformar em uma estratégia e executar no mercado. O problema está na palavra “segundo”. Quando falamos em tempo de reação no mundo dos algoritmos, a unidade de medida utilizada é o milissegundo. Hoje, é possível processar uma nova informação, emitir uma ordem e executar essa ordem em um tempo médio de 0.75 milissegundos.
No tempo que você usou para ler o subtítulo, mais de 1300 ordens já foram executadas. Quem não se adequa à essa nova realidade está fadado a ficar para trás.
COMO SOBREVIVER NESSE NOVO MUNDO?
Todos concordaram comigo que o piloto é uma das peças mais importantes para determinar se determinada equipe sairá vitoriosa de uma corrida.
Pense no melhor piloto da Fórmula 1 da história. Ayrton Senna talvez? Ninguém nunca chegou aos pés de Senna.
Apesar disso, se você colocasse o Ayrton Senna correndo em um carro da sua época, contra qualquer piloto usando um carro atual, Senna não teria a menor chance. Hoje, sem um bom carro e uma boa equipe gerenciando a corrida, nem o melhor piloto consegue vencer.
Pessoas brilhantes (pilotos) quando unidas ao que há de mais avançado no poder computacional e estatística (carro). É a única forma para garantir uma vantagem competitiva nesse novo mundo e conseguir resultados consistentes.
Uma boa notícia para você, investidor, é a sua liberdade de escolha nesse cenário. Você pode escolher a quais equipes você vai confiar o seu patrimônio. Algumas pessoas consideram os avanços na gestão e na tecnologia uma ameaça. Outros enxergam nesse novo mundo uma oportunidade, e usam os recursos disponíveis a seu favor.