Por diversas décadas, o investidor de renda fixa brasileira foi acostumado a receber altas taxas de juros em seus investimentos. Em 5 anos era possível dobrar o capital investido, sem tomar um grande risco, apenas com títulos emitidos pelo governo e uma Selic de 14,25%
A grande consequência de um juro alto no fluxo de investimentos de uma pessoa ao longo da vida, é que ela precisava acumular menos dinheiro para ter uma boa aposentadoria no futuro.
Agora isso mudou!
Até o final deste ano. Isso significa que para dobrar o seu capital investido, você vai precisar agora de 15 anos! Exatamente 3 vezes mais do que era necessário no passado.
Ou você trabalha por mais tempo, para conseguir acumular o patrimônio necessário, ou você terá que correr mais risco para tentar aumentar o retorno dos seus investimentos.
Isso significa sair dos títulos do governo e pensar nas seguintes possibilidades: Essas novas opções envolvem mais risco. O governo é o emissor mais seguro da economia. Em uma situação de crise ele pode aumentar impostos, fazer empréstimos com entidades internacionais ou emitir moeda. Já bancos ou empresas não têm acesso a esses recursos, e têm maior probabilidade de quebrar durante uma crise.
Incluir esses outros investimentos na sua carteira deve ser feito com absoluta cautela! Não é toda empresa que tem um bom negócio e um alto potencial de valorização de suas ações. Não é todo banco que consegue pagar as suas dívidas.
Tudo isso deve ser analisado no detalhe, através de uma análise de crédito (no caso de títulos de crédito privado), uma análise de balanço (no caso de ações) ou uma análise do histórico dos gestores (no caso dos fundos).
Se você apenas alterar o tipo de ativo que compra, sem considerar uma boa análise, pode apenas estar trocando menos risco por mais risco, sem que isso signifique aumentar o potencial de retorno da sua carteira.
Por exemplo, quem olha para a performance histórica de 1 ano dos títulos do Tesouro IPCA+ 2035 e dos Prefixados 2025 verá retornos agressivos de 37% e 22%.
Isso aconteceu pois tivemos um dos maiores ciclos de queda dos juros já vistos em nossa economia. Isso não deve se repetir no futuro! As taxas de mercado até podem cair mais, porém não seria um movimento de mesma magnitude. Seria uma queda mais marginal, com baixo impacto em termos de rentabilidade.
Se você seguir investindo nesses títulos, empolgado com a performance passada, não se dando conta de que ela se deu por uma conjuntura temporária não recorrente, vai apenas estar tomando muito mais risco (pois as taxas podem subir novamente caso haja alguma crise) para não ter o mesmo potencial de retorno. É o oposto do que um investidor consciente de médio prazo deve fazer.
A busca em sua carteira deve ser sempre por aumentar o potencial de retorno, minimizando o risco.
Por esse motivo, de tempos em tempo, a depender do cenário macroeconômico, é importante você rebalancear a sua carteira retirando aqueles ativos que já andaram bastante e já estão próximos do seu objetivo de preço e incluindo novos ativos com maior potencial e mais distantes no nível justo de preço.
Esse tipo de carteira é a mais vencedora do longo prazo. Correr riscos excessivos pode te dar um bom retorno em um ou dois casos. Mas fazer isso de forma recorrente apenas irá te aproximar dos prejuízos.
A renda fixa agora virou um ativo com baixo retorno e alto risco, depois de anos e anos sendo a principal performance das nossas carteiras.
Enquanto a economia ainda estava fraca, as ações não performaram tanto ao mesmo tempo que os juros caíram por redução da inflação. Agora estamos esperando uma retomada da atividade para 2020 e 2021, o que será muito positivo para o preço das ações, enquanto a queda da Selic para 4,5% já está embutida nos preços dos títulos públicos.
O cenário mudou!
E você tem que repensar a sua carteira também.
Artigo escrito por Marília Fontes
Sócia-fundadora da Nord Research e especialista em Renda Fixa